Cada vez mais a tecnologia marca presença e se torna imprescindível na prática Médica e no desenvolvimento da aplicação dos cuidados de saúde.
A utilização do potencial oferecido pelas actuais tecnologias de telecomunicação na prestação de cuidados de saúde dá origem a termos como Biotelemetria ou Telemedicina.
Várias definições são propostas para descrever Telemedicina, no entanto todas elas se centram na premissa de prestação de cuidados de saúde à distância.
OMS - Organização Mundial de Saúde | ATA - American Telemedicine Association |
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“A oferta de serviços ligados aos cuidados de saúde, nos casos em que a distância é um factor crítico …” |
Acrescenta “Além da oferta de serviços ligados aos cuidados de saúde, inclui também a educação remota para o médico e paciente.” |
Vamos adoptar como definição de Telemedicina : “: O conjunto de serviços clínicos e educacionais que são prestados remotamente e que visam a melhoria e eficiência da prestação de cuidados de saúde.”
A grande maioria das aplicações de Telemedicina consiste na transferência de informações médicas obtidas por diferentes meios (palavra escrita ou falada, sondas, digitalizadores de imagem, versões electrónicas de instrumentos correntes), através de diversos meios de comunicação (correio electrónico, telefone fixo, GSM, videoconferência, cabo, RDIS, satélite, etc.).
O seu grau de sofisticação pode ir da simples utilização de um telefone para a discussão de um caso clínico entre dois profissionais de saúde até à utilização de poderosos sistemas de videoconferência via-satélite entre prestadores de cuidados de saúde de dois países distantes.
Os principais alvos e utilizadores desta técnica de prestação de cuidados de saúde são os médicos, os doentes e em geral a comunidade.
São diversas as situações em que a Telemedicina pode ser aplicada:
* Doente fisicamente separado de médico
* Médicos fisicamente separados entre si
* Grupos de doentes e familiares de doentes fisicamente separados
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Ao contrário do que se possa imaginar a Telemedicina não é um conceito recente, fruto da imaginação de criadores de filmes de ficção científica. Conceptualmente é uma técnica antiga e que se tem vindo a desenvolver na sua forma de aplicação e alcance a par da evolução dos meios tecnológicos de telecomunicação à disposição.
A primeira referência a cuidados de saúde prestados à distância aparece no século 19, numa altura em que o principal meio de comunicação era o correio. Nessa altura o médico trocava informações com os sues doentes ou outros médicos através de carta. Como se pode imaginar a velocidade com a informação se propagava nessa altura não era ideal. Alguns autores reportam-se a épocas mais longínquas considerando que a comunicação da existência de um surto de peste numa povoação através de fogueiras ou outro tipo de sinais também se pode considerar telemedicina. |
Com a revolução dos sistemas de comunicação iniciada com a invenção do telégrafo e mais tarde do telefone, novas e melhores formas de trocar informação foram introduzidas na sociedade. A Telemedicina rapidamente se adaptou fazendo uso destes meios mais eficazes na troca de informação. Em 1910 surge o primeiro estetoscópio eléctrico, que aliado à tecnologia rádio, permitia a realização de consultas remotas com auscultação, a produção de diagnósticos e prescrição.
Por esta altura surge também a primeira experiência de envio de electrocardiogramas através da linha telefónica. O seu autor Einthoven, também inventor do primeiro aparelho de electrocardiografia, denominou esta técnica por "Le Telecardiogramme".
Outra tecnologia que veio permitir à Telemedicina ultrapassar grandes barreiras terrestres foi o Rádio. Durante a 1º guerra mundial, o rádio foi utilizado para ligar médicos na frente de batalha, com hospitais de retaguarda (1916). Em 1920 efectuavam-se consultas a marinheiros em alto mar. Por volta de 1960 com o início das viagens espaciais são desenvolvidos mecanismos para monitorizar sinais vitais dos astronautas.
O aparecimento da Televisão veio alargar o leque e as capacidades da Telemedicina possibilitando não só a transmissão de som mas também de imagem.
Em 1955 foi construído um sistema de circuito fechado de TV para consulta entre especialistas do Instituto de Psiquiatria do Nebraska e clínicos gerais Norfolk State Hospital.
Em 1966 foi desenvolvido um sistema de videoconferência entre o aeroporto internacional de Boston e o Massachusetts General Hospital para apoio médico a viajantes.
Actualmente e com as mais recentes tecnologias de comunicação, é possível desenvolver sistemas de Telemedicina com maior qualidade e versatilidade. É de registar por exemplo a utilização de sistemas de transmissão de ECG e vídeo entre ambulâncias e o hospital para a prestação de cuidados em situações de emergência e catástrofe. Sistemas de TeleRadiologia e TeleCardiologia que permitem a realização de exames em locais remotos do planeta e a sua visualização e analise de exames por especialistas em centros de referencia.
A massificação da utilização da Internet tornou-a um meio poderoso de disseminação da informação clínica. Tornando possível o desenvolvimento de sistemas de informação e sistemas de educação e sensibilização da comunidade.
Actualmente são diversas as áreas de aplicação entre outros são exemplos :
Áreas Remotas( zonas rurais e de difícil acesso)
Ambientes Militares
Estabelecimentos Prisionais
Espaço
A Telemedicina assume diversas formas de aplicação e são classificadas de acordo com a natureza do acto clínico:
TeleConsulta, a realização de consultas cara-a-cara. Tipicamente
utilizam um meio interactivo de comunicação em que os intervenientes
podem estabelecer uma conversação. Podem ser realizadas através
de video-conferência, telefone ou simples sites de conversação.
TeleIntervenção, nesta categoria são classificadas as
aplicações que permitem a realização de intervenções
cirúrgicas à distância. Aqui aliam-se as tecnologias de
informação à Robótica como meio mecânico de
levar a cabo as instruções dadas pelo cirurgião.
TeleMonitorização. Sistemas de monitorização de
sinais vitais com/sem lançamento de alertas remotos. Alguns sistemas
poderão ser dotados de portabilidade permitindo ao paciente continuar
a sua vida quotidiana enquanto dura o processo de vigilância.
TeleFormação. Inclui sistemas de informação para
a sensibilização da população e da comunidade, Formação
clínica de médicos e enfermeiros de um modo passivo através
de repositórios de informação ou de um modo interactivo
através de vídeo conferência.
Exemplos de aplicações da Telemedicina e o seu âmbito:
Clínico | Educacional | Administrativo |
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Tele-Cardiologia | Tele-Educação | Registos Inter-Instituições |
Tele-Psiquiatria | Investigação | Registos Electrónicos do Doente |
Tele-Dermatologia | Educação Médica Continua | |
Tele-Oncologia |
Sensibilização da Comunidade | |
Tele-Oftalmologia |
Hospital Virtual | |
Tele-Radiologia |
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Tele-Enfermagem | ||
Tele-Nefrologia | ||
Tele-Patologia | ||
Tele-Emergencia e serviços de salvamento |
Actualmente o desenvolvimento de sistemas de Telemedicina assenta em dois paradigmas distintos: Store and Forward e Real Time.
A tecnologia denominada "store and forward" consiste no armazenamento e envio de informação à distância. Esta tecnologia é utilizada tipicamente em situações de não emergência, quando o diagnóstico ou consulta pode ser feita nas próximas 24 - 48 horas e envio de volta. São exemplos desta tecnologia qualquer comunicação assíncrona entre doentes e profissionais de saúde (ex: troca de e-mail com envio de imagens ou sintomas para a elaboração de diagnóstico ou consulta).
Uma das especialidades onde este paradigma é utilizado com mais frequência
é a Radiologia. São inúmeros os centros de Radiologia que
implementam sistemas de TeleRadiologia para recolha, análise e envio
de resultados de exames efectuados em diversos locais.
Neste paradigma enquadram-se não só sistemas que envolvem algum
dinamismo no envio e recolha de informação mas também repositórios
de informação disponibilizados através de WebSites. São
exemplos destes casos sites como o Hospital Virtual onde se disponibiliza informação(normas
de procedimento, aconselhamento, prevenção, novos procedimentos
clínicos, casos clínicos, etc) direccionada ao paciente e ao médicos.
Store and Forward |
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TeleConsulta aplicada a Radiologia ( Teleradiologia ) - Sinais recolhidos e posteriormente enviados para discussão |
Telemonitorização |
TeleEducação e Sensibilização da Comunicada - Hospital Virtual |
O paradigma RealTime permite o desenvolvimento de sistemas capazes de disponibilizar
interactividade entre os participantes, seja apenas via texto (chat) ou video
( two-way interactive television - IATV). Este tipo de tecnologia permite por
exemplo a realização de consultas "cara-a-cara" ou intervenções
cirúrgicas remotas.
Apesar de ainda apresentar números proibitivos para inúmeras instituições
esta tecnologia tem sofrido uma diminuição no preço e complexidade.
Existem muitas configurações possíveis para uma consulta
interactiva, mas a mais típica é de um local rural para um urbano.
Nesta situação o paciente não tem de se deslocar a um local
urbano para ver um especialista, e muitas vezes, permite o acesso a cuidados
especializados onde não existiam anteriormente.
Quase todas as especialidades de medicina podem ser conduzidas através
deste tipo de consultas, por exemplo : psiquiatria, medicina interna, reabilitação,
cardiologia, pediatria, obstetrícia e ginecologia. Existem também
muitos aparelhos periféricos que podem ser ligados a computadores que
podem auxiliar no exame interactivo. Por exemplo, um estetoscópio permite
ao médico ouvir os batimentos cardíacos à distância.
Real Time |
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TeleConsulta aplicada a Radiologia ( Teleradiologia ) - Um painel de clínicos acompanha a realização de um exame de radiologia |
Teleintervenção - A equipa de cirurgiões controla uma série de robôs que realizam a intervenção remotamente. |
Teleconsulta - Durante o transporte de acidentados é possível
o envio e monitorização de ecg's a partir de ambulâncias
para um hospital central. |
A utilização de um ou outro paradigma está directamente
relacionada com a natureza do processo médico que se pretende "tele-informatizar"
( necessidade ou não de interactividade) e com o orçamento disponível.
O Store & Forward apresenta custos substancialmente mais baixos não
necessitando de grandes recursos no que diz respeito ao meio de comunicação
e aos dispositivos para a sua difusão. Consequentemente é mais
barato e fácil de desenvolver.
A sua principal desvantagem relativamente ao RealTime reside na baixa interactividade
não permitindo desenvolver processos onde é imperiosa a existência
de uma relação presencial.
Doente | Médico | Instituição |
---|---|---|
Acesso a Especialistas. |
Acesso mais fácil ao diagnóstico de especialistas. |
Extensão de cobertura de serviços. |
Conveniência e conforto aos pacientes (menos deslocações). |
Quebra de isolamento. |
Racionalização de investimentos. |
Suavização do factor isolamento. |
Acesso a formação e informação. |
Flexibilidade acrescida na gestão dos recursos. |
Faculta acesso 24/24 horas pelo médico a dados sobre o doente, qualquer que seja o local em que este se encontre (Teleacompanhamento de doentes) | Diminuir despesas. | |
Faculta acesso 24/24 horas pelo doente a informação
e cuidados médicos, qualquer que seja o local em que se encontre
|
Maior conveniência. | Melhor articulação entre níveis de cuidados. |
A Telemedicina não apresenta só virtudes, existem uma série
de problemas que tem origem na necessidade de garantia de segurança da
informação e na dificuldade ético - legal de estabelecer
níveis de responsabilidade entre os intervenientes.
Exemplo de Sinal Eléctrico | |
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“Lose fat throught the Internet? The quality of weight loss related websites”
[1] |
|
A partir deste exemplo é possível constatar como a prática da Telemedicina apresenta algumas deficiências quanto a sua regulamentação e vigilância.
|
Existem diversos problemas de natureza diversa que condicionam a utilização de sistemas de Telemedicina:
Social | Ético-legais | Segurança e Confiança | Económicos |
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Resistência a mudanças organizacionais e comportamentais
relevantes nos serviços de saúde. |
Definição de Responsabilidade clínica | Garantir ao doente privacidade e confidencialidade | Investimento elevado em tecnologia |
Preconceitos tecnológicos |
Quanto menor for a informação obtida sobre um doente, tanto maior será a probabilidade de conclusões erradas (efeito "pequena janela") | Garantir identificação genuína dos intervenientes |
Qualidade do meio de comunicação |
Pode tornar menos humana (e quase só técnica) a relação
médico-doente |
Segurança no meio de comunicação (internet) |
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A evolução da Telemedicina tem-se desenrolado a par da evolução das tecnologias de comunicação. Fruto da diversidade e qualidade dos meios de comunicação disponíveis as áreas de aplicação multiplicam-se permitindo levar a locais remotos serviços médicos especializados.
Assim a Telemedicina oferece grandes vantagens na melhoria da prestação
dos cuidados de saúde a todos os níveis. Permite a redução
e por vezes a eliminação do impacto do factor distância
na qualidade prestação dos cuidados de saúde. O desenvolvimento
de normas e regimentos de conduta permitirá suprir alguns dos problemas
presentes. A banalização de sistemas de videoconferência
levará tendencialmente à diminuição dos custos tornando
a sua aplicação mais apetecível e viável.
Com a generalização das aplicações de Telemendicina,
esta passará a ser encarada como uma nova "técnica médica"
deixando de ser considerada apenas como uma "tecnologia emergente".
Maheu M, Whitten P, Allen A. E-Health, Telehealth, and Telemedicine, 2000.
Degoulet P, Fieschi M. Introduction to Clinical Informatics, 1996.